Não
tenho tempo agora para responder a todas as questões levantadas
pelos colegas que participaram do debate sobre ensino de Literatura,
mas, brevemente, gostaria de fazer só algumas observações:
1)
Não rejeito a abordagem cronológica apenas no ensino da Literatura;
a rejeito também nos ensinos de História e de Filosofia. Até hoje,
na maioria dos casos – há algumas exceções –, a abordagem
temática tem funcionado em minha prática docente. A organização
de obras e autores em períodos e movimentos é utilitária e, assim,
pode ser substituída por outra forma de “classificação” (para
aproveitar o termo utilizado na discussão). Minha intenção,
enquanto professor de Literatura na Educação Básica, não é
formar pseudo historiadores da Literatura, capazes apenas de marcar
uma opção em perguntas de múltipla escolha: é, antes, formar
leitores competentes, atentos, que saibam ler nas entrelinhas, e que
desenvolvam um apreço pela leitura literária – de acordo com seus
próprios gostos.
2)
Note que me referi à abordagem cronológica – que alguns chamaram
equivocadamente de “abordagem historiográfica” (e digo
“equivocadamente” porque uma abordagem não se torna
“historiográfica” simplesmente por fazer uso de dados
cronológicos!) – apenas no que concerne ao ensino na Educação
Básica. Obviamente, se estivéssemos formando historiadores da
Literatura, necessitaríamos nos preocupar, até certo ponto, com
dados cronológicos. Mas esse não é o caso na escola.
3)
Não poderia ser mais direto acerca de minha posição e prática do
que fui naquela discussão. Na maioria das escolas brasileiras onde
há alguma forma de “instrução” literária, essa se resume a
uma aula de cerca de cinquenta minutos semanais. Se olharmos para as
propostas curriculares, e mesmo para os livros didáticos – ou
melhor, os “ditadores das aulas” (considerando que,
frequentemente, são esses materiais que ditam não apenas o que deve
ser ensinado, mas também como deve ser ensinado!) –, veremos que o
curtíssimo tempo das aulas de Literatura não nos permitiria tratar
de todo aquele conteúdo e, ao mesmo tempo, formar leitores
literários. Então, há de se fazer uma opção. A minha opção tem
sido sempre a de facilitar a formação de leitores literários – a
história literária, no caso específico da escola, torna-se, em
minha prática, apenas uma ferramenta secundária. Honestamente, não
me envergonho de minha opção!
4) É
aí que entra a teoria. As concepções “teóricas” que abraçamos
– e por “teóricas”, aqui, me refiro à visão que temos da
realidade, que não é necessariamente tão sistemática quanto as
chamadas “teorias” que utilizamos no meio acadêmico e/ou
científico – estão indissociavelmente atreladas ao processo de
leitura. Todos nós projetamos sobre os “textos” que “lemos”
nossa visão de mundo; e, no caso específico da Literatura, nós
professores projetamos nossas bases teóricas (agora, sim, da Teoria
enquanto construção filosófica) sobre os textos que lemos e
discutimos em sala. É por essa razão que, para mim, se faz
necessário informar aos estudantes acerca de minhas fontes teóricas,
da diversidade de visões teóricas e que, portanto, é possível se
chegar a compreensões diversas dum mesmo texto. Isso nem sempre é
fácil, mas é possível.
Essa
é uma discussão política deveras complexa e que, como viram, leva
a manifestações nem sempre muito gentis entre colegas de profissão.
Posso resumi-la a um ponto crucial: eu, enquanto professor, não sou
um ditador intelectual – sou um facilitador da aprendizagem; assim,
me recuso a imaginar que meus alunos não sejam capazes de lidar com
ideias e com o conhecimento!
Assim
que tiver mais tempo, responderei às questões que me enviaram.
Grande
abraço!
Gibson
da Costa
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