Gibson
da Costa
Ouvi,
numa palestra sobre “os profissionais do futuro”, comentários
acerca dos supostos tipos de profissionais desejados pelo “mercado”.
Um dos palestrantes dizia que os jovens deveriam estudar algo “mais
útil do que as ciências humanas”, se quisessem encontrar um
emprego “decente”. Ele sugeriu que estudassem Administração de
Empresas! [Talvez não soubesse, a propósito, que as chamadas
“ciências sociais aplicadas”, como a Administração, são parte
do grande grupo das humanidades!]
Não
é interessante que o tipo de pergunta que serve de título para este
texto, e que serve de fundo para os comentários que ouvi naquela
palestra, seja sempre feito sobre as chamadas “ciências humanas”?
[As aspas, a propósito, devem ser tomadas como um indicativo de
minha discordância com o uso da expressão.]
Por
que uma formação em Filosofia, História, Teologia ou Letras – só
para citar alguns dos campos mais discriminados pelo tal “mercado
de trabalho”, e algumas de minhas áreas de formação – não
seria apropriada fora do mundo da educação ou da religião? Alguém
com uma boa formação numa dessas áreas idealmente possui
certas habilidades valiosas para qualquer empregador, dentre as
quais:
-
saber pesquisar e analisar evidências;
-
conseguir perceber o que não está imediatamente aparente nos aparatos sociais;
-
compreender os processos de criação de conexões humanas;
-
articular uma argumentação persuasiva;
-
expressar ideias e soluções inovadoras;
-
possuir autonomia intelectual;
-
saber trabalhar sob pressão e dentro de um determinado prazo.
Como
isso não seria útil a essa entidade quase etérea que chamam de
“mercado de trabalho”? Que tipo de empregador não consideraria
tais habilidades como essenciais ao seu negócio? Se os laboradores
das humanidades que conhecem não correspondem a essa figura ideal
listada acima, responsabilizem sua formação ou sua atitude, e não
o campo que supostamente estudaram – caso contrário, começaremos
a pensar que todos os que possuem formação nas áreas financeiras
são plenamente ignorantes dos meandros da vida e conhecimentos
humanos.