Gibson da Costa
Sempre
fui contrário aos testes escolares tradicionais como
forma de “avaliação” da aprendizagem dos alunos.
Para mim, enxergar aquele tipo de teste como forma única e/ou
necessária de avaliar a aprendizagem é um equívoco irreconciliável
com minha visão de educação. Educar não é despejar
informações numa caixa e esperar que o estudante as retire durante
um momento de testagem. Essa compreensão antiquada e autoritária
de educação e de avaliação – como bem demonstram pesquisas
sobre currículo e avaliação, especialmente aquelas associadas a
Jay McTighe e Grant Wiggins, por exemplo – limita a
real avaliação da aprendizagem e contribui muito pouco para o
desenvolvimento da autonomia pessoal/intelectual do estudante.
O
grande obstáculo, contudo, é que a maioria daqueles que são
responsáveis pela administração do trabalho do professor discordam
de minha oposição aos testes tradicionais. Na verdade, a maioria
dos próprios estudantes e de seus pais acreditam que fazer testes, e
“sair-se bem neles”, é a mais adequada forma de medição de
aprendizagem e de sucesso educacional. Então, é comum que alguns
sintam-se desconfortáveis com atividades “alternativas” aos
testes tradicionais como forma de avaliação. E mesmo quando o
“teste” é remodelado – já que, muitas vezes, é obrigatório
– para dar uma voz maior ao pensamento do próprio estudante, ou
para incitar sua criatividade, já recebi ao menos os olhares
reprovadores.
Eu,
como alguém com sérias limitações de concentração e foco, sei o
quão inútil e prejudicial pode ser ter minha aprendizagem avaliada
por meu desempenho em testes e provas – que ocorrem em momentos e
lugares, para mim, inoportunos. Assim, trazendo essa autoconsciência,
não poderia exigir daqueles a quem ensino algo que eu mesmo teria
problemas para enfrentar com “sucesso”. Minha própria
experiência ao longo da vida me condiciona a abraçar outras
compreensões do que seja e de como deva ser processada a avaliação
de aprendizagem.
Recentemente,
lidando com a testagem obrigatória dum tema específico em História
(a organização urbana das colônias da América espanhola) no
correspondente ao Ensino Médio, resolvi realizar uma atividade mais
prática – mas que também envolvesse textos escritos. A atividade
se estendeu por dois diferentes dias. A turma deveria ler, em casa,
uma fonte histórica (as “Ordenações Reais para a Construção de
Novas Cidades”, de 1573), projetar uma nova cidade seguindo as
regras estabelecidas no documento; e, individualmente, escrever sobre
os valores e ideias que estavam por trás daquela visão urbanística
(previamente, havíamos discutido o tema em sala e lido textos a
respeito):
1)
A turma se organizou em grupos de 4;
2)
dei a cada grupo um mapa duma área desabitada, e uma cópia das
“Ordenações Reais para a Construção de Novas Cidades”
(1573), nº 110 – 135;
3)
os grupos deveriam seguir as ordenações e, primeiramente, decidir
sobre o tamanho e a localização da praça;
4)
decidir onde seriam as ruas;
5)
determinar as localizações dos prédios principais;
6)
determinar outras características;
7)
na aula seguinte, deu-se a parte escrita – o “teste”
propriamente dito –, no qual cada estudante, individualmente,
escreveu sobre as razões, os valores e as ideias por trás daquela
visão/organização urbanística.
Os
estudantes fizeram referências às suas leituras anteriores e às
discussões que desenvolvemos em sala; basearam sua produção na
leitura de fontes históricas; trabalharam sua imaginação criativa
e diferentes tipos de inteligência para planejar uma cidade e
desenhar um mapa; trabalharam sob a pressão do tempo; e fizeram tudo
isso por meio da cooperação em suas equipes.
Como
isso poderia ser inferior a um teste escrito com questões de
múltipla escolha ou qualquer outro tipo de perguntas?... O que eles
e elas fizeram, em minha visão, avaliou muito bem sua
aprendizagem!...
Mas
não foi exatamente isso que alguns pais e alguns de meus colegas
pensaram. Para eles, talvez, a aprendizagem daqueles jovens só teria
sido realmente avaliada se tivessem respondido a questões objetivas
capazes apenas de testar sua memória para supostos fatos históricos.
Tive de defender minha posição diante dum comitê burocrático!...
Uma redução escandalosamente distante do que tantas pesquisas sobre
currículo, avaliação, e aprendizagem apontam sobre o que poderia,
deveria ocorrer e realmente ocorre no processo de
ensino-aprendizagem.
Depois
dessa última experiência com os debates sobre avaliação no
ambiente real de trabalho, sinto-me ainda mais comprometido com minha
antiga posição anti-testagem!
Nenhum comentário:
Postar um comentário